Investida inglesa
Arthur Caldeira
O mercado de motocicletas acima de 500 cc caiu pela metade em todo o mundo desde a crise financeira mundial em 2008. Em 2007 as vendas
nesse segmento alcançaram 1.300.000 unidades. No ano passado, esse
número ficou em torno de 700.000. Por outro lado, a Triumph cresceu no
período. Se, há cinco anos, a fábrica inglesa vendeu 39.664
motocicletas. No ano fiscal de 2011, foram 48.062 motos Triumph
comercializadas.
Relativamente pequena se comparada às
japonesas e focada somente no mercado de motos grandes, leia-se acima de
500 cc, a Triumph Motorcycles já conta com cinco fábricas em todo o
mundo – duas em Hinckley, na Inglaterra, e outras três na Tailândia. E
prepara outra em Manaus (AM), onde serão montados alguns modelos pelo
sistema CKD (complete knocked down), e que marcará a chegada oficial da
marca inglesa ao País. Juntamente com a operação no Brasil, a Triumph
também vai entrar de forma oficial na Índia, dois dos principais
mercados emergentes do mundo.
Um pouco de história
Uma das mais antigas fábricas de
motocicletas em atividade no mundo – senão a mais antiga – a Triumph
construiu sua primeira moto em 1902. Cresceu nas primeiras décadas do
século passado, foi impulsionada pelas duas Grandes Guerras Mundiais,
porém teve sua fábrica em Coventry destruída pela Força Aérea Alemã,
durante a Segunda Guerra. Renasceu e gozou de enorme reputação até
meados de 1970, quando começou sua decadência ao lado de outras marcas
inglesas que sofriam com a forte concorrência japonesa. Honda, Yamaha,
Kawasaki e Suzuki chegaram com modelos confiáveis, a preços mais
acessíveis e com uma excelente capacidade industrial.
Em 1983, a fábrica fecha as portas.
John Bloor, empresário do ramo de construção civil, adquire o nome
Triumph e algumas Bonnevilles, a emblemática naked que fez o nome da
marca nas décadas anteriores, continuam a ser fabricadas sob licença.
Até 1990, Bloor investiu tempo e dinheiro para entender o negócio de
motocicletas e construiu uma fábrica em Hinckley, a 22 quilômetros da
antiga sede da empresa.
No Salão de Motos de
Colônia (Alemanha) de 1990, a Triumph voltou à ativa com seis novos
modelos, sempre apostando nas motos grandes e no motor
de três cilindros. Desde então, surgiram alguns que se tornaram ícones,
como a naked Speed Triple e a bigtrail Tiger em 1994. Expandiu-se pelo
mundo e reconquistou seu lugar no imaginário dos motociclistas.
Desta forma, a marca passou de modestas 10.000 unidades, vendidas
em 1995, para cerca de 50.000 no ano passado. “Desde 2000 tivemos um
crescimento de 146%”, comemora Paul Stroud, diretor de marketing e
vendas da Triumph Motorcycles.
Presente em mais de 30 países, com
importadores independentes ou subsidiárias próprias, a Triumph tem hoje
mais de 700 revendedores para comercializar os 23 modelos de sua gama
(incluindo versões) e registrou um faturamento em torno de R$ 1 bilhão
no último ano fiscal – julho 2011 a junho 2012. Líder no mercado de
motos grandes na Inglaterra (com 16,6 %), a marca tem visto seu market
share crescer em outros países. Tem nos Estados Unidos seu maior mercado
com mais de 11.000 unidades vendidas em 2011 e espera que o Brasil
ocupe um lugar de importância nos negócios da empresa.
Três pilares
Analisando as últimas duas décadas de
atuação da empresa, é fácil compreender o sucesso da “moderna” Triumph,
chamada de era John Bloor pelos funcionários e fãs da marca. A começar
pela parte industrial. “Uma das principais mudanças da Triumph atual
para antiga fábrica foi a modernização dos processos industriais. Um dos
aprendizados de John Bloor antes de reativar a empresa foi visitar as
fábricas orientais: como produzir motos de qualidade em escala
industrial”, revela Paul Stroud. A globalização da produção e o
investimento na modernização dos processos permitiram à Triumph crescer
para novos mercados.
Do ponto de vista comercial e de marketing, Paul Stroud, oriundo da indústria automotiva
e ex-diretor da Harley-Davidson na Inglaterra, aponta três razões para o
sucesso recente: “constante atualização dos modelos e lançamento de
novas motos, mudança na estrutura dos revendedores e excelência no
atendimento ao cliente”.
Como exemplo cita a Bonneville, até
hoje no line-up da marca: “a Triumph fez a primeira Bonneville em 1959 e
dependeu praticamente só dela para se manter até a década de 1970. O
resultado vocês conhecem”, declara.
Na última década, por exemplo, a
Triumph adentrou diversos novos segmentos: lançou a bem sucedida
superesportiva média Daytona 675 em 2006, que logo em seguida deu origem
à naked Street Triple também de 675 cc. Acessível e versátil, a Street
Triple era até ano passado o modelo de maior sucesso. Até o lançamento
da Tiger 800, em 2010, que já ocupa o posto de modelo Triumph mais
vendido no mundo.
Orgulhoso de contar com 240
funcionários no seu departamento de design, Simon Warburton, gerente de
produtos da Triumph, há 17 anos na empresa, diz que sua equipe busca
explorar as plataformas. Caso da Daytona e Speed Triple, e com o recente
lançamento da Explorer XC, uma versão mais aventureira da bigtrail
Explorer de 1200 cc. “A grande variedade de motocicletas no line-up
diminui os riscos da empresa. Acabamos com aquela história de colocar
todos os ovos na mesma cesta”, explica ele.
Futuro
Além do investimento em novos modelos e
em lojas conceitos para melhor atender ao cliente, a Triumph coloca a
expansão para novos mercados como fundamental para continuar crescendo.
“Acreditamos que o Brasil tem potencial para alcançar os principais
mercados europeus em vendas”, revela Paul Stroud.
Para isso, a empresa tem uma linha de
montagem em Manaus (AM), que já produziu alguns modelos para teste,
entre eles a Tiger 800. Em visita à fábrica 2 em Hinckley, Inglaterra,
já era possível ver diversas caixas com a bigtrail de 800 cc desmontada e
com destino ao Brasil. Apuramos que o segundo modelo a ser montado por
aqui será a esportiva Daytona 675. Além disso, a empresa terá
concessionárias em grandes cidades do País, como São Paulo, Rio de
Janeiro, Ribeirão Preto e Porto Alegre e ainda um armazém de
distribuição de peças.
Sem dar mais detalhes sobre a operação
brasileira, que deve ser oficializada em meados de outubro, o atual CEO
da Triumph, Nick Bloor, afirma que “já começaram a estocar peças”,
principalmente para atender aos antigos clientes da marca que estão há
dois anos sem atendimento – desde o imbróglio que envolveu a
Harley-Davidson e o Grupo Izzo, que também revendia as motos Triumph, os
consumidores da marca inglesa estão “desamparados”.
Com o típico bom modo inglês, Bloor
evita dar detalhes de como se deu essa transição do antigo importador
para a subsidiária Triumph Motorcycles Brazil. “Foi uma entrada natural.
O mercado cresceu e resolvemos investir mais”, afirma.
Sobre os modelos que vem ao Brasil, o
CEO faz segredo. Porém, o gerente de produtos Warburton havia dado
pistas de que o line-up inicial não deve ser muito grande: “para o
início de operação e para estruturarmos toda a empresa não devemos
começar com mais de seis, sete modelos”.
Sabendo que entre eles estão as duas
bigtrails, a Tiger 800 e a Explorer 1200, pode-se apostar na esportiva
Daytona 675, e as nakeds Street Triple e Speed Triple 1050. “Ainda não
posso revelar quais modelos serão montados em Manaus, mas digo que uma
fábrica precisa de volume. Certamente vamos produzir motos nos segmentos
onde há mais volume”, dá pistas, o CEO, Nick Bloor.
Fotos: Arthur Caldeira
Fonte:
Agência Infomoto
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