Com essa ninguém pode!
Por Bruna Scavacini

Taís
Freire Salles, 28 anos, jornalista e apaixonada pelo motociclismo. Essa
garota já fez muitas loucuras, contrariando as vontades de sua mãe, só
para sentir o “vento na cara”. Isso que é vontade de liberdade… Confiram
e conheçam um pouco mais sobre essa motociclista.
D.A.=Quando teve início sua adoração por motos?
A
memória mais antiga que tenho de moto é de quando eu tinha meus 5 ou 6
anos. Meu pai tinha uma vespa e eu estudava na mesma rua da minha casa,
porém meu pai sempre me levava de moto para a escola. Eu ficava em pé na
frente com as mãos no guidão e achando que estava super pilotando (rs).
Passou um tempo, meu pai caiu com a vespa e acabou vendendo.
Seu pai vendeu a vespinha e sua paixão deu uma esfriada?
Mais ou menos… Quando eu tinha uns 13 anos, lançaram a Biz. Eu achava um charme a motinha colorida, só que eu não
tinha idade para tirar habilitação. Minha solução foi começar a guardar
dinheiro para quando completasse meus 18 anos eu comprasse essa Biz.
Mas quando completei os 18 anos acabei comprando um carro e também não
tirei habilitação de moto, porque minha mãe não deixou, achava muito
perigoso.


Sim, eu
fazia tudo com ela: estudava e ia para o trabalho. Eu saia de casa, em
Santo Amaro, ia até a Brigadeiro Luis Antonio, próximo ao Teatro Abril.
Depois ia até a Vila Olímpia, onde eu estudava e voltava para casa quase
23h. Era muita aventura porque não importava se estava chovendo, sol,
ruas alagas. Eu sempre ia com minha Biz. Fiz isso por muito tempo…
Nesse
tempo não sentiu vontade de pegar uma moto de maior porte e cilindrada,
já que andava diariamente em avenidas muito movimentadas?
Não. Eu
queria era customizar minha Biz. Fiquei uns 8 meses com a moto original,
na cor prata e depois fui personalizando: cromei todos os raios, pintei
o escapamento de preto, pintei a roda de preta, coloquei a
churrasqueira preta e por último pintei a moto de roxo com purpurina.
Ela ficou linda e foi nesse momento que realmente desencanei do carro.
Mas passou um tempinho, minha ex cunhada veio para São Paulo, viu minha
moto e se apaixonou . Queria porque queria comprá-la. Aí sim, depois de
customizá-la inteira, da maneira que eu sempre desejei, resolvi vender a
moto para minha ex cunhada e comprei uma XTZ. Foi quando aprendi a
andar de moto com embreagem. Acho que foi aí que o bichinho do
motociclismo começou a gritar mais alto e mesmo sendo uma 125cc, eu
adorava pegar estrada.
Costumava pegar estrada sozinha?
Na
maioria das vezes, sim. Meu ex namorado trabalhava na Harley, inclusive
aos sábados. Como eu ficava sem o que fazer eu pegava a moto nos sábados
pela manhã e saia sem destino, ou ia para Campinas torcer para meu time
do coração, o Guarani (rs). Sempre ia escondida. Aí um belo dia voltei
de Campinas com algumas sacolinhas do Guarani e meu ex namorado
perguntou o que era aquilo. Acabei contando onde eu havia ido.

Já que adorava andar na estrada, com uma 125 cc e sozinha não era muito perigoso?
Era,
sim. Mas na época eu saí da empresa onde eu estava, peguei um dinheiro
legal e resolvi tirar umas férias. Tinha planos para quando voltasse:
iria pegar uma moto grande, justamente por esse motivo que você falou.
Como sempre visei a GS 650cc, eu sempre a pesquisar na internet para me
informar se era uma moto legal, seus defeitos, suas qualidades… Sempre
comentei com o meu ex namorado a respeito dessa moto, mas como ele
trabalhava na Harley ele gostava de Harley. Ele queria a força que eu
comprasse uma, mas eu não gostava e não queria andar na garupa dele,
acho que sou um pouco orgulhosa para esse tipo de coisa. Passou um tempo
e por milhares de outros motivos acabamos terminando e a primeira coisa
que fiz foi comprar a BMW (rs).
Hoje você tem uma BMW GS 650, mas já pensa em trocá-la?

Pelo visto sua mãe não gosta muito que você ande de moto, certo?
Ela
reclama, mas acabou desistindo porque viu que não adianta. Ela sabe que é
perigoso, mas sabe que ando com equipamentos de segurança, que tomo
cuidado, porém ainda acho que a ela faz “macumba” comigo! (rs).
Bom… Eu
faço parte de um fórum da BMW e um certo dia alguém levantou a peteca de
irmos para Curitiba, no museu da BMW. Comentei com a minha mãe que eu
iria com o pessoal e na hora ela fez aquela cara de poucos amigos. Ela
não gostou da ideia e começou a falar que era perigoso. Enfim, ficou
combinado de sairmos no sábado 6h da manhã rumo a Curitiba.
Para não ter problemas fui trabalhar com a moto na sexta-feira e na volta passei na casa da
minha mãe para instruí-la de como cuidar das minhas 3 cachorras. Quando
fui sair da casa dela a moto não pegava com problema na bateria. Eu
olhei para minha mãe e vi o sorriso nos olhos dela e vi que mesmo sem
demonstrar se sentiu muito vitoriosa. Chamei o pessoal da seguradora e
eles abriram a bateria e viram que estava sequinha. Colocamos o líquido,
mas ainda assim não funcionou. Bom, fui para a minha casa muito brava e
a pé, porque a moto ficou na porta da casa da minha mãe. Não consegui
dormir de tanto ódio, de tanta raiva. Uma amiga minha, Rosa, até
ofereceu para eu pegar uma das motos dela, mas fiquei com vergonha e
deixei quieto. Como não consegui dormir, quando foi umas 6h do sábado já
liguei e pedi o guincho. Eles chegaram, e fomos logo na concessionária.




Na
verdade eu ainda tinha esperança de viajar, desde quando fui buscar a
moto na porta da casa da minha mãe, com o guincho. Já fui toda equipada
pensando: quem sabe arrume super rápido e eu consiga ir… Quando o
mecânico falou que em meia hora, no máximo, eu já conseguiria levar a
moto, peguei o celular e liguei para o organizador do passeio e avisei
que iria encontrá-los em Curitiba. Detalhe, eu não sabia andar lá e não
tenho GPS… (rs). Da própria concessionária liguei para a minha mãe e
avisei que estava indo para Curitiba e ela começou a falar um monte.
Arrumei roupa, peguei a moto e fui, mas ao mesmo tempo que eu estava
receosa de sair acelerando eu estava com pressa. Mesmo assim preferi ir
devagar e chegar, a dar um susto na minha mãe.
Na serra do Cafezal estava uma neblina muito forte e o meu subconsciente dizia: nunca contrarie a mamãe…
(
rs). Eu só sentia o anjinho dizendo: fica calma Taís, não ultrapassa
esse carro. E o diabinho dizia: Thais, você vai chegar atrasada. Enfim,
cheguei na porta do hotel em Curitiba. Era 14h30. Mesmo com essa
correria toda deu para fazer tudo o que eu queria (rs). No domingo nós
voltamos para São Paulo pela Serra Rastro da Serpente, tem muitas curvas
e nessa história toda, três rapazes se arrebentaram. Bateram de frente
com um carro. Acabamos chegando quase 21h. Mas na hora do acidente eu só
lembrava da “macumba” da minha mãe. Liguei para ela para avisar que eu
estava bem, mas que iria demorar para chegar. Cheguei super tarde, mas
feliz por ter ido.

Nunca
caí de moto e o meu maior medo não é do acidente, mas da dor… sou muito
chorona…(rs). Quando jovem fiz tatuagem, piercing, mas depois de velha
fiquei com medo. De repente, quando eu ficar mais velha, vou desistir de
moto, vou ficar com medo, porque sou muito cagona. Não gosto de ficar
vendo fotos, vídeos de acidentes. Tudo na vida nós temos que olhar o
lado bom. Se eu não pensasse assim ficaria pensando o tempo todo: o que
estou fazendo andando com isso?!
Odeio
sair de moto quando está chovendo. Morro de medo de cair; o capacete
fica com bolhas de água porque ainda não inventaram capacetes com
limpadores; os motoristas não enxergam direito; você sabe que se frear a
moto não para. São diversos fatores que me fazem pensar dessa forma. Eu
não saio de casa, de moto, quando está chovendo
Quais lugares que a liberdade com sua moto lhe proporcionaram conhecer?
O
primeiro passeio que fiz em grupo foi para Joanópolis. Depois fui para
Guaxupé, Curitiba, Paraibuna, litoral norte, Angra dos Reis , interior
de São Paulo… Não são lugares tão longes, mas foram viagens divertidas.
Tem algum lugar que deseja ir pilotando sua moto?
Tenho
muita vontade de fazer o sul do Brasil, a rota do vinho que tem lá.
Tenho vontade de ir até a Argentina e fazer a moto romaria que tem em
outubro, em Belém.
Você anda sempre muito bem equipada. O que te faz andar assim?
O
equipamento é essencial quando você está na moto, porque sem ele você
não tem segurança. Só raramente ando de bermuda. Geralmente uso botas,
calça jeans, jaqueta (mesmo no calor), luva, capacete fechado. Andar só
de camiseta é muito raro também.
Qual o seu conselho de prevenção para os garupas que não costumam se preocupar com a segurança?
Em tudo
na vida você tem escolhas. Independente de estar na garupa ou pilotando,
você está sujeito a um acidente. A prevenção é importante, senão, se
você cair você não pode reclamar. Muita gente acha que é porque está na
garupa é imune a qualquer acidente, mas geralmente num acidente o mais
lesado é o garupa. O garupa também tem que ter a preocupação com
segurança, e o que percebo é que muitas vezes os garupas não são
usuários frequentes de moto, então acabam não ligando muito para essa
questão. Se você gosta de andar de moto, ande equipado, pois se você
cair irá se recuperar mais rápido do tombo.
Deixe um recado para as garotas de tem a mesma paixão que você, mas que tem um pouco mais de medo.



Desejamos boa sorte à nossa entrevistada
e esperamos que com seu depoimento muitas outras mulheres se decidam
pelo fascinante mundo das duas rodas.
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