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domingo, 27 de janeiro de 2013


Com essa ninguém pode!

Com essa ninguém pode!
Taís Freire Salles, 28 anos, jornalista e apaixonada pelo motociclismo. Essa garota já fez muitas loucuras, contrariando as vontades de sua mãe, só para sentir o “vento na cara”. Isso que é vontade de liberdade… Confiram e conheçam um pouco mais sobre essa motociclista.

D.A.=Quando teve início sua adoração por motos?
A memória mais antiga que tenho de moto é de quando eu tinha meus 5 ou 6 anos. Meu pai tinha uma vespa e eu estudava na mesma rua da minha casa, porém meu pai sempre me levava de moto para a escola. Eu ficava em pé na frente com as mãos no guidão e achando que estava super pilotando (rs). Passou um tempo, meu pai caiu com a vespa e acabou vendendo.

Seu pai vendeu a vespinha e sua paixão deu uma esfriada? 
Mais ou menos… Quando eu tinha uns 13 anos, lançaram a Biz. Eu achava um charme a motinha colorida, só que eu não tinha idade para tirar habilitação. Minha solução foi começar a guardar dinheiro para quando completasse meus 18 anos eu comprasse essa Biz. Mas quando completei os 18 anos acabei comprando um carro e também não tirei habilitação de moto, porque minha mãe não deixou, achava muito perigoso.

Quando eu tinha uns 22, 23 anos precisei renovar minha habilitação e resolvi tirar a categoria de moto, porém escondido da minha mãe. Ela só ficou sabendo quando cheguei com a habilitação na mão e ela quase me matou. Na verdade ela quase me matou de verdade quando comprei a moto e cheguei em casa. Na realidade como financiei a moto ligaram na minha casa para confirmar se eu morava lá. Aí que minha mãe ficou sabendo, até então eu não havia contado nada…(rs)

Você usava diariamente sua Biz?
Sim, eu fazia tudo com ela: estudava e ia para o trabalho. Eu saia de casa, em Santo Amaro, ia até a Brigadeiro Luis Antonio, próximo ao Teatro Abril. Depois ia até a Vila Olímpia, onde eu estudava e voltava para casa quase 23h. Era muita aventura porque não importava se estava chovendo, sol, ruas alagas. Eu sempre ia com minha Biz. Fiz isso por muito tempo…
  
Nesse tempo não sentiu vontade de pegar uma moto de maior porte e cilindrada, já que andava diariamente em avenidas muito movimentadas?
Não. Eu queria era customizar minha Biz. Fiquei uns 8 meses com a moto original, na cor prata e depois fui personalizando: cromei todos os raios, pintei o escapamento de preto, pintei a roda de preta, coloquei a churrasqueira preta e por último pintei a moto de roxo com purpurina. Ela ficou linda e foi nesse momento que realmente desencanei do carro. Mas passou um tempinho, minha ex cunhada veio para São Paulo, viu minha moto e se apaixonou . Queria porque queria comprá-la. Aí sim, depois de customizá-la inteira, da maneira que eu sempre desejei, resolvi vender a moto para minha ex cunhada e comprei uma XTZ. Foi quando aprendi a andar de moto com embreagem. Acho que foi aí que o bichinho do motociclismo começou a gritar mais alto e mesmo sendo uma 125cc, eu adorava pegar estrada.
 Costumava pegar estrada sozinha? 
Na maioria das vezes, sim. Meu ex namorado trabalhava na Harley, inclusive aos sábados. Como eu ficava sem o que fazer eu pegava a moto nos sábados pela manhã e saia sem destino, ou ia para Campinas torcer para meu time do coração, o Guarani (rs). Sempre ia escondida. Aí um belo dia voltei de Campinas com algumas sacolinhas do Guarani e meu ex namorado perguntou o que era aquilo. Acabei contando onde eu havia ido.

Acho que aquilo foi o começo do fim do namoro (rs). Ele ficou muito bravo porque fui sozinha, porque não avisei, mas eu disse que não ia ficar esperando a boa vontade dele, pois ele trabalhava aos sábados. Mas apesar dele trabalhar com moto, acho que ele não gostava tanto assim como eu gostava. Sempre que eu chamava para dar umas voltinhas no domingo ele vinha com desculpas do tipo: estou cansado… minha moto (uma Lander) é pequena para dar rolê. Para você ter ideia, para fazermos um bate e volta para a praia eu demorei uns 8 meses para convencê-lo.

Já que adorava andar na estrada, com uma 125 cc e sozinha não era muito perigoso?
Era, sim. Mas na época eu saí da empresa onde eu estava, peguei um dinheiro legal e resolvi tirar umas férias. Tinha planos para quando voltasse: iria pegar uma moto grande, justamente por esse motivo que você falou. Como sempre visei a GS 650cc, eu sempre a pesquisar na internet para me informar se era uma moto legal, seus defeitos, suas qualidades… Sempre comentei com o meu ex namorado a respeito dessa moto, mas como ele trabalhava na Harley ele gostava de Harley. Ele queria a força que eu comprasse uma, mas eu não gostava e não queria andar na garupa dele, acho que sou um pouco orgulhosa para esse tipo de coisa. Passou um tempo e por milhares de outros motivos acabamos terminando e a primeira coisa que fiz foi comprar a BMW (rs).
  
Hoje você tem uma BMW GS 650, mas já pensa em trocá-la? 
Sim… Aos poucos comecei a pensar em pegar uma moto maior, mais confortável, porque ao invés de pensar em ir para São Roque, por exemplo, penso em ir para o Rio, Argentina, Machu Pichu, Alasca (rs). Estou um pouco confusa do que fazer. Queria fazer a rota 66, mas também queria trocar a moto. Se eu trocar vou ter que fazer alguma coisa nas férias e vou ter que fazer escondido da minha mãe porque se eu avisar ela não vai deixar eu ir… (rs). Até um tempo atrás eu queria trocar a minha moto pela F800GS, mas o problema é que eu teria que mexer na moto porque não alcanço os pés no chão e o outro ponto é que chegou a Thiumph, a Tiger, que pelo visto vai chegar mais barato.

Pelo visto sua mãe não gosta muito que você ande de moto, certo?
Ela reclama, mas acabou desistindo porque viu que não adianta. Ela sabe que é perigoso, mas sabe que ando com equipamentos de segurança, que tomo cuidado, porém ainda acho que a ela faz “macumba” comigo! (rs).
  
 
Conte-nos uma aventura que teve com sua motocicleta.
Bom… Eu faço parte de um fórum da BMW e um certo dia alguém levantou a peteca de irmos para Curitiba, no museu da BMW. Comentei com a minha mãe que eu iria com o pessoal e na hora ela fez aquela cara de poucos amigos. Ela não gostou da ideia e começou a falar que era perigoso. Enfim, ficou combinado de sairmos no sábado 6h da manhã rumo a Curitiba.

Para não ter problemas fui trabalhar com a moto na sexta-feira e na volta passei na casa da minha mãe para instruí-la de como cuidar das minhas 3 cachorras. Quando fui sair da casa dela a moto não pegava com problema na bateria. Eu olhei para minha mãe e vi o sorriso nos olhos dela e vi que mesmo sem demonstrar se sentiu muito vitoriosa. Chamei o pessoal da seguradora e eles abriram a bateria e viram que estava sequinha. Colocamos o líquido, mas ainda assim não funcionou. Bom, fui para a minha casa muito brava e a pé, porque a moto ficou na porta da casa da minha mãe. Não consegui dormir de tanto ódio, de tanta raiva. Uma amiga minha, Rosa, até ofereceu para eu pegar uma das motos dela, mas fiquei com vergonha e deixei quieto. Como não consegui dormir, quando foi umas 6h do sábado já liguei e pedi o guincho. Eles chegaram, e fomos logo na concessionária.

Mais ou menos 9h05 eu estava na concessionária descarregando a moto com o guincho. Coincidentemente o rapaz que estava dirigindo o guincho era de Curitiba. Entrei muito brava na concessionária, mas não pela moto ter dado pane e sim porque planejei durante dois meses essa viagem e estava prestes em não consegui ir. Mas, como disse antes, o motorista do guincho era de Curitiba e conversa vai, conversa vem, ele acabou dizendo que de São Paulo à Curitiba levava por volta de 4h. O pior trecho era a Serra do Cafezal, porque tem muito caminhão e falta prudência por parte dos motoristas. Ele acabou me incentivando e me encorajou de ir sozinha. Como o chefe da oficina de onde levei a moto já tinha me atendido outras vezes pelo mesmo motivo, ele acabou conseguindo uma outra bateria, somente para eu ir até Curitiba e voltar.
Na verdade eu ainda tinha esperança de viajar, desde quando fui buscar a moto na porta da casa da minha mãe, com o guincho. Já fui toda equipada pensando: quem sabe arrume super rápido e eu consiga ir… Quando o mecânico falou que em meia hora, no máximo, eu já conseguiria levar a moto, peguei o celular e liguei para o organizador do passeio e avisei que iria encontrá-los em Curitiba. Detalhe, eu não sabia andar lá e não tenho GPS… (rs). Da própria concessionária liguei para a minha mãe e avisei que estava indo para Curitiba e ela começou a falar um monte. Arrumei roupa, peguei a moto e fui, mas ao mesmo tempo que eu estava receosa de sair acelerando eu estava com pressa. Mesmo assim preferi ir devagar e chegar, a dar um susto na minha mãe.
Na serra do Cafezal estava uma neblina muito forte e o meu subconsciente dizia: nunca contrarie a mamãe… ( rs). Eu só sentia o anjinho dizendo: fica calma Taís, não ultrapassa esse carro. E o diabinho dizia: Thais, você vai chegar atrasada. Enfim, cheguei na porta do hotel em Curitiba. Era 14h30. Mesmo com essa correria toda deu para fazer tudo o que eu queria (rs). No domingo nós voltamos para São Paulo pela Serra Rastro da Serpente, tem muitas curvas e nessa história toda, três rapazes se arrebentaram. Bateram de frente com um carro. Acabamos chegando quase 21h. Mas na hora do acidente eu só lembrava da “macumba” da minha mãe.  Liguei para ela para avisar que eu estava bem, mas que iria demorar para chegar. Cheguei super tarde, mas feliz por ter ido.

Você já sofreu algum tipo de acidente com moto?
Nunca caí de moto e o meu maior medo não é do acidente, mas da dor… sou muito chorona…(rs). Quando jovem fiz tatuagem, piercing, mas depois de velha fiquei com medo. De repente, quando eu ficar mais velha, vou desistir de moto, vou ficar com medo, porque sou muito cagona. Não gosto de ficar vendo fotos, vídeos de acidentes. Tudo na vida nós temos que olhar o lado bom. Se eu não pensasse assim ficaria pensando o tempo todo: o que estou fazendo andando com isso?!

Você costuma sair de moto até debaixo de chuva?
Odeio sair de moto quando está chovendo. Morro de medo de cair; o capacete fica com bolhas de água porque ainda não inventaram capacetes com limpadores; os motoristas não enxergam direito; você sabe que se frear a moto não para. São diversos fatores que me fazem pensar dessa forma. Eu não saio de casa, de moto, quando está chovendo


Quais lugares que a liberdade com sua moto lhe proporcionaram conhecer?
O primeiro passeio que fiz em grupo foi para Joanópolis. Depois fui para Guaxupé, Curitiba, Paraibuna, litoral norte, Angra dos Reis , interior de São Paulo… Não são lugares tão longes, mas foram viagens divertidas.

Tem algum lugar que deseja ir pilotando sua moto?
Tenho muita vontade de fazer o sul do Brasil, a rota do vinho que tem lá. Tenho vontade de ir até a Argentina e fazer a moto romaria que tem em outubro, em Belém.

Você anda sempre muito bem equipada. O que te faz andar assim?
O equipamento é essencial quando você está na moto, porque sem ele você não tem segurança. Só raramente ando de bermuda. Geralmente uso botas, calça jeans, jaqueta (mesmo no calor), luva, capacete fechado. Andar só de camiseta é muito raro também.
 
Qual o seu conselho de prevenção para os garupas que não costumam se preocupar com a segurança?
Em tudo na vida você tem escolhas. Independente de estar na garupa ou pilotando, você está sujeito a um acidente. A prevenção é importante, senão, se você cair você não pode reclamar. Muita gente acha que é porque está na garupa é imune a qualquer acidente, mas geralmente num acidente o mais lesado é o garupa. O garupa também tem que ter a preocupação com segurança, e o que percebo é que muitas vezes os garupas não são usuários frequentes de moto, então acabam não ligando muito para essa questão. Se você gosta de andar de moto, ande equipado, pois se você cair irá se recuperar mais rápido do tombo.

Deixe um recado para as garotas de tem a mesma paixão que você, mas que tem um pouco mais de medo.
Meninas, andar de moto é uma coisa gostosa, mas não é brincadeira. O motociclismo passa uma imagem de ser mais comum entre os homens, mas acho que isso não tem nada a ver. A mesma competência que um homem pode ter para andar de moto, a mulher também tem. Independente do sexo, há de se ter a mesma responsabilidade de se preocupar não só com você, mas com o próximo. É chato quando um carro muda de faixa sem dar seta, mas vejo muita moto fazendo isso, não sinalizando. Para as meninas que não tem coragem, me liguem que vamos dar um rolê (rs), cada uma em seu ritmo. Não é preciso acelerar forte nem fazer traquinagens em cima da moto para você se divertir. Só o fato de você estar numa moto, numa estrada, curtindo a paisagem e acompanhada de gente legal, já vale a pena. Às vezes você conhece muita gente de forma despretensiosa, basta parar num posto que já começa a trocar ideia com algum motociclista. É uma maneira de fazer novas amizades. Eu tenho muito gosto pelas amizades que fiz no motociclismo, mas a melhor parte acho que é a liberdade. A liberdade é a palavra que mais se associa a você andar de moto. Você pode viajar o mundo todo dentro de um carro conversível, mas não é a mesma coisa. É gostoso você pegar sua moto, ir para onde quiser, tirar muitas fotos… As mulheres não podem se deixar levar pelo estereótipo de que quem anda de moto são meninas masculinas. Existem equipamentos de segurança femininos que vão deixá-las bonitas da mesma maneira. Tem capacetes para todos os gostos. Tem botas e luvas de modelos femininos. Hoje o mercado do motociclismo está preparado para as mulheres. Tem motos que são mais baixas e não tão pesadas. Quanto mais mulher no mercado, mais a indústria vai se adaptar a elas. Realmente no começo as coisas eram masculinas, porque o mercado era quase totalizado em homens, até pelo estigma da sociedade de que a mulher não podia fazer nada sozinha, mas hoje isso mudou e todas podem experimentar!
 
Desejamos boa sorte à nossa entrevistada e esperamos que com seu depoimento muitas outras mulheres se decidam pelo fascinante mundo das duas rodas.

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